Lembra deles? Os africanos que jogaram no Brasileirão Assaí antes de Kalou chegar ao Botafogo

Antes do início do Brasileirão Assaí 2020, o Botafogo ganhou um reforço e tanto. O atacante Salomon Kalou, que estava no Hertha Berlim, da Alemanha, defenderá as cores do Alvinegro no torneio nacional. Marfinense, ele ainda poderá escrever mais um capítulo na história de jogadores africanos no Brasileirão.

Afinal, antes dele, o Brasileirão recebeu atletas de Camarões, Togo, Angola, entre outros países do continente. Você se lembra de deles? Chegou a hora de recordar um pouco dessa história, com a ajuda do jornalista Matheus Soares, do Ponta de Lança, um canal brasileiro dedicado a falar sobre futebol africano. Revisite alguns dos destaques africanos dos últimos 15 anos de Brasileirão Assaí:

Joel Tagueu, a revelação do Londrina


Joel durante sua passagem pelo Santos. Foto: Ivan Storti/Santos FC

O camaronês Diederrick Joel Tagueu despontou como uma interessante revelação do Brasileirão em 2014. Tudo começou naquela mesma temporada, quando ele ainda defendia o Londrina. Com dois gols, Joel foi o grande destaque do triunfo do Tubarão sobre o Santos, pela Copa do Brasil. Apelidado de "Sajoel Eto'o" e de "Joel, o Cruel", ele ganhou uma oportunidade no Coritiba no segundo semestre.

No Brasileirão de 2014, Joel marcou oito gols em 20 partidas, com uma média de quase um tento a cada dois jogos. A melhor exibição de Joel naquele campeonato foi na vitória por 2 a 1 sobre o São Paulo. Joel marcou duas vezes e ainda ganhou a internet por, depois de quase entrar com bola e tudo, "sumir" na escadaria para os vestiários. Isto aconteceu porque, na comemoração, o camaronês foi pular a placa de publicidade e acabou caindo no túnel.

- Joel conseguia aliar finalização com imposição física. Seu grande sonho era chegar à seleção de seu país. A vinda dele ao Brasil foi justamente para isso, para evoluir seu futebol até esse ponto - destacou Matheus Soares.

O bom desempenho de Joel lhe rendeu uma chance no Cruzeiro em 2015. Mas sua passagem pela Raposa não foi das mais memoráveis e Joel começou a rodar o Brasil em busca de tempo de jogo. No Brasileirão, ele ainda defendeu Santos, Botafogo e Avaí, antes de deixar o país para ir ao futebol português.

Ficou por pouco mais de um ano no Marítimo, onde conseguiu retomar seu futebol. No meio do ano passado, voltou ao Cruzeiro, mas novamente ficou sem espaço. O vínculo entre o camaronês e o clube celeste foi encerrado em junho de 2020 e Joel retornou ao Marítimo para a reta final do Campeonato Português

Geraldo, o angolano mais decisivo do Coxa


O angolano Geraldo celebra gol contra o Athletico. Foto: Coritiba/Divulgação

"Se tem Atletiba, chama o Geraldo". Durante um bom tempo, foi comum ouvir frases como essa nas arquibancadas do Couto Pereira. O angolano fez história pelo Coritiba já em seus primeiros momentos com a camisa do clube. Aos 18 anos de idade, o meia-atacante entrou durante a final do Campeonato Paranaense, em 2010, contra o Athletico. Não demorou para que ele entrasse em ação: deixou a marcação para trás, bateu firme e marcou o gol do título.

O gol lhe rendeu mais oportunidades no Coritiba, onde atuou com certa regularidade nos anos seguintes. Fez parte do time que foi duas vezes vice-campeão da Copa do Brasil. Com o tempo, Geraldo acabou perdendo um pouco de espaço no elenco do Coxa. Mas seu desempenho nos clássicos sempre foi marcante.

Como a finalíssima de 2010 já indicava, a estrela de Geraldo brilhava contra o Athletico. O angolano deixou o Coritiba no fim de 2014 com nove clássicos disputados. Em oito deles, Geraldo saiu do banco. E, mesmo assim, conseguiu marcar quatro gols no total. Uma marca para lá de respeitável. Para Matheus Soares, as características do atacante contribuíram para esta fama. 

- Geraldo é até hoje um dos africanos de mais destaque no futebol brasileiro. Ele tem um jeitão de jogador brasileiro, de ir para cima e por isso sempre foi um dos mais acionados pelos técnicos do Coritiba - descreveu o jornalista.

Enquanto ainda jogava pelo Coritiba, Geraldo foi duas vezes convocado para a seleção de Angola. Defendeu o país na Copa Africana de Nações de 2013, jogando em todas as três partidas da equipe na competição.

Johnson Macaba e o orgulho angolano


Macaba exibe bandeira de Angola após marcar. Foto: Reprodução/Facebook

Também angolano, Johnson Macaba chegou ao Brasil cedo. Aos oito anos de idade, deixou seu país natal com sua família, que se refugiava no Brasil por conta da guerra civil. Chegou a rodar por alguns clubes de menor expressão de São Paulo antes de chegar ao Londrina. Defendeu o clube na Copa João Havelange, em 2000, e ganhou destaque por marcar o gol da vitória no mesmo dia em que um diretor do clube teve um mau súbito nas tribunas. Ganhou o mórbido apelido de "matador".

Outro momento de destaque de Macaba foi no Campeonato Paulista de 2001. O angolano defendia a União Barbarense quando a equipe foi goleada por 5 a 1 pelo Palmeiras. Foi dele o gol de honra do time. Na comemoração, o atacante se dirigiu às câmeras, levantou a camisa do clube e mostrou a que levava por baixo, com a bandeira de Angola. A imagem correu o mundo.

Como destacou Matheus Soares, a relação de Macaba com seu país sempre foi muito forte e quase se transformou em uma participação no Mundial:

- Macaba levou Angola por onde passou. Fez poucos gols no Brasil por times de maior expressão, mas sempre teve a oportunidade de mostrar seu orgulho pelo país por onde passou. Ele conseguiu defender a seleção, participou de duas Copas Africanas de Nações e estava na pré-lista de Angola da Copa do Mundo em 2006, mas acabou sendo cortado em cima da viagem.

Ao todo, participou de duas Copas Africanas de Nações e duas Eliminatórias da Copa do Mundo com a seleção de Angola. Ajudou o país a se classificar para o Mundial de 2006, mas acabou ficando de fora da lista final. Após a passagem pelo Londrina, atuou pela Portuguesa, na Série B de 2005, e participou do time que tinha como referências os atacantes Celsinho e Leandro Amaral. Em 2006, defendeu o Goiás no Brasileirão, entrou em três partidas, mas não balançou a rede nenhuma vez.

Os naturalizados


Você sabia que o atacante Jônatas Obina e o volante Hamilton, que disputaram o Brasileirão, já defenderam as seleções da Guiné Equatorial e de Togo, respectivamente? Os dois nasceram no Brasil mesmo, mas têm dupla-cidadania e jogaram pelos países africanos.

O primeiro deles foi Hamilton. O meio-campista, que vestiu as camisas de Náutico e Sport Recife entre 2008 e 2012, é natural de Murici, no Alagoas. Ele defendeu Togo ainda em 2003, quando os togoleses eram treinados pelo técnico brasileiro Toninho Dumas. Ele convidou o meia quando ele jogava pelo Sergipe e, naquele mesmo ano, ele concluiu o processo de naturalização.

Nascido em Sete Lagoas, Jônatas Obina disputou o Brasileirão Assaí pelo Atlético-MG, em 2011. Sua passagem não teve grandes destaque ou duração. Foram apenas dez jogos e dois gols pelo Galo. No ano seguinte, Jônatas ganhou sua primeira oportunidade com a seleção da Guiné Equatorial. Com dupla cidadania, o atacante foi convocado para disputar as eliminatórias da Copa Africana de Nações.

Kalou: experiência de Copa no Fogão


Salomon Kalou em ação pela Costa do Marfim na Copa do Mundo. Foto: FIFA

Salomon Kalou é um dos melhores jogadores da história da Costa do Marfim. Presença constante na seleção marfinense na última década, o atacante defendeu os Elefantes Africanos em três Copas do Mundo: 2010, 2014 e 2018. Seu momento de maior destaque na carreira foi com a camisa do Chelsea, da Inglaterra, onde jogou de 2006 a 2012. Pelos Blues, conquistou a Liga dos Campeões da Europa de 2011-2012. Ao fim daquela temporada, transferiu-se para o Lille, onde ficou até ir para o Hertha Berlim. A equipe alemã foi a última de Kalou antes de rumar para o Botafogo.

O marfinense chegou ao Alvinegro com as pompas de uma contratação de peso. Ao lado do japonês Keisuke Honda, é um dos principais reforços do clube para este Brasileirão. Juntos, os dois têm a missão de garantir o desempenho ofensivo do Glorioso.

Lembra deles?


Além dos citados, outros africanos passaram pelo futebol brasileiro. O goleiro camaronês William Andem vestiu as camisas de Bahia e Cruzeiro e disputou a Copa do Mundo de 1998. Por pouco tempo, o Corinthians contou com o atacante sul-africano Mark Frank Williams, em 1996. No mesmo ano, o zimbabuano Kennedy Nagoli fez algumas de suas poucas partidas com a camisa do Santos. Mais recentemente, em 2008, o nigeriano Abubakar integrava o elenco do Vasco da Gama. Sem muito destaque, ele também passou por Internacional e Caxias no futebol brasileiro. Esses são alguns dos africanos que ajudaram a escrever a história do futebol brasileiro e do Brasileirão nos últimos anos. Que a próxima história, de Kalou e do Botafogo, seja bonita e fortaleça ainda mais esse laço.